01 novembro 2006

ENGANO

O ruído dos motores tornara-se ensurdecedor. Depois, de súbito tudo ficou em silêncio.
Foi à janela e olhou.
Lá em baixo os carros tinham parado, exactamente em frente à mansão. Abriram-se portas e as fardas começaram a sair, algumas de bota alta, olhando para cima.
Recou um pouco, para não ser visto lá de fora. Encostou o cano Stein ao canto da janela e, aguentando com firmeza na anca, atirou a primeira rajada num movimento sábiamente circular. E continuou.
Enganara-se. Pela primeira vez.
Vinham apenas dizer-lhe que fora eleito Presidente.

Mário-Henrique Leiria
Escritor: 1923 – 1980