22 setembro 2007

100 título ele I

Desço abruptamente a calçada, nas mãos ainda levo trémulo o sentimento de dor.

São quatro horas não sei se da manhã ou da tarde pouca diferença faz. Os olhos arregalados já não permitem destrinçar o lado colorido da roupa que visto.

E a Seychelles aqui tão perto de um tsunami convulsivo.

Sabia que estas coisas não aconteciam só aos outros, tinha a prefeita noção que os sentimentos são como as rotundas, com entradas e saídas.

Como é que se pode ser tão horrível, tão diabólico. Prometo tentar nunca mais partir um copo de whisky.

Levanto-me na penumbra do meu olhar, as fadas negras pululam no meu imaginário, e uma acerca-se em câmara lenta, 135mm e beija-me a testa sussurrando-me candidamente:

- Sebastião, nunca te esqueças que um poema sem nexo é como uma cama sem sexo.

E eu que tinha acabado de me levantar, ainda mal conseguia acertar com o dedo no chinelo, quando a minha consciência bate no fundo e a pancada é tão grande que me fez recuperar a memória dos momentos anteriores.

Faço o gesto típico de sacudir a cabeça com violência rrrrrrrrhuuuum, violento como quem toma um cimbalino duplo sem açúcar, afinal o gelo ainda estava inteiro, ainda havia a oportunidade de voltar a saborear um copo de whisky e pensar que a minha cama ainda é capaz de ranger de prazer. Na verdade existem camas que têm vida, assim como copos de qualquer coisa. Enfim esta capacidade humana de amar a carne e o fóssil.

Por volta das 7 horas não sei se da manhã ou da tarde encontro-me homem vestido de negro. A fatiota está a rigor para a festa mais colorida do ano a minha Renault 4l está perfeitamente linda, a música que sai roufenha do auto rádio parece-me in delével a Dark Side of the… e não consigo recordar-me do nome do grupo.

E logo agora que estou pronto para a grande farra, vem-me esta coisa negra encher o carro e obrigar-me a escrever à Sofia, recordando-a que gosto da minha 4L e que ainda estou louco de amor por ela. Há objectos e abjectos que nos fazem mover.

- Sebastião, Sebastião, acorda tens de estar no quartel às 8 horas e ainda se ouvem as granadas a explodir no quintal e nós precisamos da tua ajuda, meu querido filho.

O ar sôfrego da mãe num misto de protectora e protegida faz com que Sebastião vista o seu camuflado urbano e parta urgentemente para a sua guerra civil.

No braço esquerdo reluz uma tatuagem Angola 1972 – Amor de Mãe.…///…

21 setembro 2007

estações

No decorrer da Primavera sai na estação errada, mas caminhando encontra-se quase sempre uma nova estação.