25 dezembro 2007

reflexão

Acordei insolente, o tempo para mim tem os dias contados. Um destes dias fico sem tempo, sem tempo para acordar, sem tempo para me olhar, ou olhar o eu do meu espelho que em tudo é parecido comigo.

Mas não o vejo como se fosse eu.

Sem ele não imaginaria que os dentes são cor de marfim, sem ele não teria a noção da beleza que é sorrir… mesmo que no reflexo me pareça demasiado introspectivo por vezes a roçar a humor negro.

Acordei com essa oferta do meu natal, esse excelente presente que é ainda me poder olhar ao espelho, esse presente que é a constância da crítica… do que parece ser a minha alma física planificada nesse rectângulo mágico.

Mágico porque nos arruína quando nos observamos em estado de espírito malévolo, mágico porque nos alimenta a auto-estima, endeusando o culto da personalidade.

Se não fosse esse companheiro matinal, nunca teria a certeza que o que me dizem ser a cor do meu cabelo, seria na verdade a cor do meu cabelo. Poderiam mentir-me perfeitamente para me humilharem… pois na verdade serão muito poucos os que o diriam por bem. Muito poucos mesmo. A exaltação do negativo é uma nova religião, a do culto do individualismo.

Com o espelho já somos dois diferentes mas em quase tudo semelhante.

Eu e o outro, que é quase como eu… talvez demasiado mimético.

E se um dia o meu eu salta do espelho? E se ocupa o meu lugar… o que será de mim?

Ainda existirei nesse momento, ou estarei no canto superior de uma sala a observar o meu físico?

Estou a pensar partir o espelho, antes que ele me parte.

Mas pegando no seu princípio de vida que é a reflexão, pela primeira vez vou imitá-lo, vou também eu na minha humilde condição de humano mimar a sua postura. Vou também reflectir, pensando melhor nessa oferta do meu natal.

3 comentários:

Anónimo disse...

a importancia de acordar e olhar-se ao espelho.estar vivo.grande presente!quanto á cor do cabelo,já que o preto é a soma das cores,o cinza,bem o cinza é mais ou menos como o teu quadrado mágico a intrinseca mistura de dois...
será sempre dificil a imagem do ser-se,e o ver-se como,isto para nao falar de como te vêm.
o importante é olhar-se todos os dias,interiormente,ou ao espelho.

Anónimo disse...

Hum...
Narciso, de tanto se olhar ao espelho da água e de mimar o seu reflexo, morreu louco e atomentado pelo espelho capciosamente encoberto por um alter ego, de tão narcisico, que dai, nasceu a palavra...

Anónimo disse...

UPS!
´ seria uma pena tamanha forma...
de formas estranhas te revês...!
num tão vasto horizonte..,tua linha de mar:ela está longe mas está lá! para cá dela tudo é real e tangível. Para além está o ignoto e o mistério....ESPELHO ou NÃO!?