30 abril 2006

SEVER DO VOUGA - VILA I

28 abril 2006

PÂNICO

Os tentáculos de Alien envolviam-me o pescoço, as quatro lâmpadas fluorescentes brancas que iluminam a sala mantêm-se alinhadas a assistir ao sufoco da tortura. Penso positivo. O barulho das ferramentas soa a Range Against Machine – Calm Like a Bomb com imagens de Slipknot.

E depois? E depois aquela alfinetada dolorosa, e ela sorri com aquele ar de felicidade sádica. Os zombies pululam no tecto branco, as pernas tremem, os suores frios encharcam o imaginário, as cândidas palavras não permitem dar troco, os grunhidos guturais não têm sentido. São 48 minutos que quase levam à morte.
Mas sobrevivi, e hoje penso que nada de transcendente existe no mistério das mortes no dentista. Alfred Hitchcock, realizaria um novo filme com o titulo “Pânico”.


26 abril 2006

FELICIDADE


“A verdadeira felicidade custa pouco; sendo cara, é porque a sua qualidade não presta”
François Chateaubriand

23 abril 2006

ÓPERA DOS OPRIMIDOS


Um anjo negro montado num cavalo branco galopava pela planície
Ao fundo o azul ténue do horizonte marcava a linha do infinito
Um anjo branco montado num cavalo negro galopava pela montanha
Ao fundo o vermelho do precipício marcava a linha do inferno
No meio o Homem cantava dolente a ópera dos oprimidos.

Matosantos

19 abril 2006

PÁSSARO E O GATO



Na encruzilha assisti ao pássaro a comer o gato.
Na encruzilha assisti o pássaro a morrer
porque o gato estava envenenado

Matosantos

16 abril 2006

LAUREAR A TOURA


Ás 7,30 da manhã, sonho já acordado com um sol endiabrado por de trás das nuvens.
O calor da cama leva-me a coçar desenfreadamente as virilhas os tomates e tudo o resto que seja passível de ser coçado. A agitação é frenética. Só há uma solução, dar de frosques do vale de ortigas, brancas, pegar num cd de Jack Johnson e ir para a praia. Falta-me o fato térmico e a prancha de surf, mas já me contento com o cd, os óculos de sol e o meu Foo Fighter negro, como quem diz Ford Fiesta.

Who's to say
What's impossible
Well they forgot...
la la la la la la lara la laaaa...

Mas porra! Hoje estou proibido de ir laurear a toura, ou seja, descontraidamente dar uma voltinha desbússolado.


13 abril 2006

MALÍCIA

Me tenha como vício
Aceite os meus de bom grado
Que o seu coração palpite, mire,
dispare sobressaltos.
Não quero nem saber
Da meia-água dos teus fados
Quero o teu choro, depois o riso
Malícia de asfalto
E enquanto isso
Vou te mostrando
(desde o início)
Meu jeito hábil.

Rogério Batalha

ENCARNADO

Tinhas encarnado nas pontas dos dedos
Rubros os lábios despojados
Esvoaçantes as melenas de maturidade
Tinhas encarnado nas pontas dos dedos
Sabedoria no silêncio
Desajeitado das palavras
Esféricas oculares
Tinhas encarnado nas pontas dos dedos

Matosantos

12 abril 2006

ESTÉCTICA JUDIACIAL II

"Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho (...) ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer? Quanto às duas primeiras, pode-se mesmo dizer que a abstenção do educador constituiria, ela sim, um negligenciar educativo. Muitos menores recusam alguma vez a escola e esta tem - pela sua primacial importância - que ser imposta com alguma veemência. Claro que, se se tratar de fobia escolar reiterada, será aconselhável indagar os motivos e até o aconselhamento por profissionais. Mas, perante uma ou duas recusas, umas palmadas (sempre moderadas) no rabo fazem parte da educação", dizem os juízes, num acórdão proferido na semana passada…….

……."A gravidade inerente às expressões maus-tratos e tratamento cruel constitui, ela sim, o elemento que nos leva à improcedência deste recurso. É que, quanto a estes menores, não só não se atinge tal gravidade, como os actos imputados à arguida devem, a nosso ver, ser tidos como lícitos. Na educação do ser humano justifica-se uma correcção moderada que pode incluir alguns castigos corporais ou outros. Será utópico pensar o contrário e cremos bem que estão postas de parte, no plano científico, as teorias que defendem a abstenção total deste tipo de castigos moderados", concluem os juízes, mantendo então a pena aplicada pelo tribunal de primeira instância à arguida, por ter amarrado os pés e as mãos da criança: dezoito meses de prisão, suspensos por um ano.

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

Ai Portugal Portugal, do que é que estás à espera?

10 abril 2006

MENTIRA



Mais que a hipocrisia indigna-me a mentira, essa indomável vontade de ser mais esperta que a inteligência. Mas como diz o ditado “apanha-se mais depressa o mentiroso que o coxo”, e o dia da verdade chega sempre.


BEIJO


By Benetton

Simplesmente Beijo

09 abril 2006

ALCCOLISMO



O álcool afecta especialmente a memória no imediato, o que prejudica a habilidade de reter novas informações.
Mais um condutor embriagado entrou em contra mão na A 29 em Vila Nova de Gaia.


08 abril 2006

FUMO

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira

07 abril 2006

MULHER I


Botero

Se um dia alguém fizer com que se quebre a visão bonita que tem de si, com muita paciência e amor reconstrua-a.

Brahma Kumaris


05 abril 2006

BLOGOSFERA - ou a feira das vaidades

Caros amigos invisíveis, se aqui chegaram ficaram a saber que tenho um Blog, sim um Blog esse nomezinho esquisito que baptizaram a este confessionário, Várias vezes diário muitas vezes retardatário e outras incendiário, sempre sedentário. Outros pseudo intelectuais como eu descobriram, para de uma forma bem portuguesa de egocentrismo, darmos mostras das nossas capacidades intelectuais, tentando quase sempre espezinhar o conhecimento dos outros em detrimento do nosso, como participar nesta nova forma de coolturar.

Depois há deles ainda mais egocêntricos que os outros, que têm a pachorra de acharem que controlam quem visita, quantas visitas tiveram etc., etc., que acham ter um stand na feira das vaidades maior que os outro, são eles os à brutos, os abutres, os que tomam quase sempre qualquer coisa, os que tomam onde muitos não querem, os que não querem e tomam, os filósofos de selha como eu que vou ali e já venho, e muitos outros onde o sexo, a futebolite, a politica e um mil números de coisas são importantes para se acharem importantes na invisibilidade da blogosfera.

Esta coisa faz-me lembrar o método do confessionário. Ai achamos que o padre adormeceu e que não escuta os nossos pecados mas, como Deus está em todo o lado, os ditos não lhe passarão despercebidos mesmo com o roncar do padre. Aqui na blogosfera a sensação é parecida, visivelmente ninguém nos escuta mas o contador deus regista a passagem, e isso dá-nos um grande prazer de notoriedade, de companhia.

Como é possível um gajo de Jacarta visitar o meu confessionário, e o coreano o que é que ele entendeu daquele post de dar um tiro nos cornos?

Possivelmente sim. Terá um programa altamente soft que lhe traduzirá o texto da melhor forma possível, por exemplo:

“ Ofereceram um tira no face dura do Cow feliz, do prenda mulher gostar muita marida do outra, tribunala batman palmas no homem decorada”

Ai Camões Camões, ai acordo ortográfico, ai lusitana paixão. Somos ais somos ais somos ais, somos muitos ais.

E cá vamos nós felizes da vida delirando com esta nova ignorância do conhecimento, da amizade copy paste, deste imenso stand na feira de vaidades. A Expo Blogosfera.

Por cá também vou embevecido por esta nova Kool Kultura até desmontar o stand.

04 abril 2006

"DAR UM TIRO NOS CÓRNOS"

“Estéctica Judicial “

Nunca é demais recordar este acórdão, já bastas vezes comentado.

Acórdão da Relação de Lisboa de 9 de Abril de 2002, in Col, Jur. Ano XXVII, tomo II, p. 142-144, citado pelo Digníssimo Magistrado do Ministério Público em seu douto Parecer, “( . . . ) a expressão em causa tem de ser apreciada à luz da capacidade de entendimento de um qualquer cidadão comum. O cidadão médio português, principalmente o de certas zonas geográficas ou de determinada formação cultural, é conhecedor, quando não regular utilizador, de expressões vernáculas e de calão.
Num país de tradições tauromáquicas e de uma moral ditada por uma tradição ainda de cariz marialva como é Portugal, não é pouco vulgar dirigir a alguém expressão que inclua a referida terminologia. Assim, quer atribuindo a alguém o facto de «ter cornos» ou de alguém «os andar a por a outrem» ou simplesmente de se «ser corno», num contexto em que se põe em causa a honestidade sexual do respectivo parceiro, têm significado conhecido e conotação desonrosa, especialmente se o seu detentor for do sexo masculino, face às regras de uma moral social vigente, ainda predominantemente machista.

Não se duvida que, por analogia, também se utiliza a expressão «dar um tiro nos cornos» ou outras idênticas, face ao ponto do corpo visado, como “levar nos cornos», referindo-se à cabeça, zona vital do corpo humano. (....). O uso destas expressões visa geralmente denegrir ou mostrar desprezo pela imagem do visado.”

Ora, imputando o assistente na acusação a supra referida expressão ao arguido e, aduzindo a mesma acusação que o arguido queria com tal expressão “amedrontar e ofender a honra e a dignidade do ofendido.”, sendo que a acusação pública acompanhou a acusação particular quanto ao crime de injúria e, referindo “que o arguido agiu com vontade livre, voluntária e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.”, é óbvio que as acusações deduzidas nos autos não são manifestamente infundadas relativamente ao crime de injúria previsto e punido nos termos do artigo 181º/1 do Código Penal.

Como doutamente explana o Exmo. Magistrado do M.P. nesta Relação, “Não se afigura, assim, legítimo ao senhor juiz, na fase processual em que foi proferido o despacho recorrido, rejeitar a acusação, pois não é possível sustentar que os factos nela narrados não permitem conduzir a eventual condenação do arguido”

Fod.............

CÓRNOS



Cabeça Ilustre com Córnos
Bronze forjado e sinzelado

José Abad

03 abril 2006

SEVER DO VOUGA - ROCAS DO VOUGA


Felizmente Há Luar

LUÍS DE STTAU MONTEIRO



80 ANOS DO SEU NASCIMENTO

Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa e faleceu no dia 23/07/1993 na mesma cidade. Partiu para Londres com dez anos de idade, acompanhando o pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressa a Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido do cargo por Salazar. Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo a advocacia por pouco tempo. Parte novamente para Londres, tornando-se condutor de Fórmula 2. Regressa a Portugal e colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A Mosca" do Diário de Lisboa, e cria a secção Guidinha no mesmo jornal. Em 1961, publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional. Foram vendidos 160 mil exemplares da peça, resultando num êxito estrondoso. Foi preso em 1967 pela Pide após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós A Relíquia, representada no Teatro Maria Matos. Escreveu o romance inédito Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título Chuva na Areia.Obras – Ficção: Um Homem não Chora (romance, 1960), Angústia para o Jantar (romance, 1961), E se for Rapariga Chama-se Custódia (novela, 1966). Teatro: Felizmente Há Luar (1961), Todos os Anos, pela Primavera (1963), Auto da Barca do Motor fora da Borda (1966), A Guerra Santa (1967), A Estátua (1967), As Mãos de Abraão Zacut (1968).

http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/luar.htm


02 abril 2006

SENTIR I


foto de Jean-François Bauret

Desistir é perder

ESTOU CANSADO

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.


Álvaro de Campos