01 outubro 2007

100 tiltulo ela I

O clássico sapato vermelho entre carris foi o mote para a minha libertação. Não houve Alfa nem Intercidades e tão pouco qualquer comboio de mercadorias daqueles bem pesados que levam cimento. A ideia de negociar o amor foi repentina. E se abrisse uma agência de qualquer coisa que envolvesse o amor?

Sei lá casamentos, porra mas isso já existe.

Divórcios, mas essa merda é para advogados.

Sei lá qualquer coisa antes que venha esse monstro, que agora já não desejo a morte.
Acorda Sofia acorda tu estás louca. O monólogo funciona como terapia à resistência. Sim uma agência pois uma agência onde eu própria possa ser a proprietária, a empregada e a primeira cliente. Eu sinto-me bem com Sebastião é um tipo fixe, por vezes um pouco tresloucado. Recordo-me quando sem mais nem quê partiu o copo de Whisky e se pôs a chorar por tê-lo partido, aqueles acessos de infantilidade à Sebastiãozinho.

Continuando a sonhar alto, a agência devia ser o espelho da minha necessidade, da minha ascensão profissional, da minha vontade de ser um pássaro livre, que tanto podia fazer um voo bem alto como voo picado sobre qualquer alvo, em que não existisse nenhuma gaiola onde pudesse estar enclausurada, onde quando me apetecesse abrisse a porta e saísse, ou assim tipo contrato de aluguer. Casávamo-nos, ou melhor íamos ao cartório e assinávamos um contrato onde ficaria explicita a duração do contrato tipo x meses. Boa é isso mesmo, uma agência de leasing matrimonial, boa, leasing matrimonial, e já tenho nome – SOFILEASING. Vai ser de fazer pirraça às minhas amigas, as televisões vão cair em cima de mim, uahu, vou ter publicidade gratuita.

Entre Sofia Albuquerque Alves Borges, Sebastião Gomes Claro Cardoso e SOFILEASING é estabelecido um contracto usufrutuário de comunhão de bens por tempo determinado e com o prazo de 48 meses a contar desta data… e eu já sonho alto com a minha liberdade, vendo as neuroses de Sebastião por um canudo, ele a tomar conta dos nossos futuros filhos, eu quero ter muitos filhos e o Sebastiãozinho um excelente papá.

Será que em 48 meses consigo ter mais de 3 filhos?

O chá está na mesa, cruzo as pernas e, de soslaio pisco-lhe o olho.

Olha saiu-me.

O tipo levantasse e dirige-se a mim porte altivo, seguro de si, comecei a tremer, será o príncipe encantado?

E diz-me:

- Permita que me sente a seu lado?

Um longo arrepio correu-me pela espinal medula abaixo tocando longamente na minha intimidade. Num gesto forte bem estruturado puxou a cadeira e sentou-se. Trémula de paixão quase sem voz perguntei-lhe se tomava um chá, o qual anui.

- Sabe é muito linda, e parece-me apaixonada.

- Sim, sim foi amor à primeira vista. Disse eu meio aparvalhada.

- Pois eu entendo-a, o Sebastião gosta muito de si, e pediu-me para lhe entregar esta carta, chamo-me Ricardo Abreu, ou melhor Tenente Abreu.

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