22 outubro 2006

CARTA DE UM MARGINAL

Um dia pego na estrela que trago no coração
e atiro-a à cara de alguém...

Um dia agarro todos os meus sonhos
e todos os meus sorrisos
e deito-os num poço,
já que ninguém os quer...

Um dia junto as pétalas das rosas
e a ternura que trago nas minhas mãos
e ponho-as às costas duma pessoa qualquer...

Um dia apanho o meu olhar mais doce,
o meu búzio mais lindo
e a concha do mar da minha infância
e deixo-as morrer de fome...

Um dia vou dentro da minha alma
tiro-lhe todos os tesouros
e os mais lindos poemas que trago comigo
e rasgo-os diante duma multidão...

Um dia as asas dos meus pássaros
baterão com tanta força
que irei com elas a voar... voar...

Um dia drogo-me por saudade
da minha ternura perdida,
violento-me e violento
uma menina de tranças louras...

Um dia roubo um banco,
compro uma mota
e fujo para o fim do mundo...

Ai! Dou um beijo a qualquer desconhecido.
Aquele beijo que sempre quis dar...

Julio Roberto

Sem comentários: